História da Casa

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A Casa da Travessa do Moinho de Vento, habitação de António Sérgio (entre 1926 e 1969) é recordada pelos seus amigos e familiares, com saudade, pelo seu “ambiente harmonioso e tranquilo, convidando à reflexão e ao debate inteligente e cultivado.”

Numa carta a um amigo António Sérgio escreve: “Tenho…um esplêndido panorama da casa, na marquise que dá para o Tejo e para o jardim dos vizinhos. À tarde depois do jantar (ainda muito dia, porque adiantamos,aqui em Portugal, 2 horas) fico a ouvir o marulhar dos pinheiros, que quási tocam os beirais da casa, e o canto da passarada, ainda pouco numerosa, porque a maioria recolhe mais tarde.” (MATOS, A. Campos; BATISTA, Jacinto; COSTA,Fernando Ferreira da – A casa de António Sérgio: um interminável escândalo nacional. In: O Jornal. 5-8-83. p. 13)

António Sérgio prezava o ambiente calmo da sua casa,onde escreveu grande parte da sua obra, onde se reunia com amigos e discípulos para “sonhar um País novo, uma reforma da mentalidade, uma alternativa.”

Em 1925 António Sérgio encomendou ao Arqt.º Raul Lino,o projeto de uma casa de habitação na Travessa do Moinho de Vento. Parece ter havido um bom entendimento entre ambos nos acertos e pormenores conforme referido pelo próprio Raul Lino no Catálogo da Exposição Retrospetiva da sua Obra, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian em 1970. Em 1926 Raul Lino publica ainda, no livro “Casas Portuguesas”, a versão original do projeto da casa, omitindo porém o nome do cliente.

Já em 1936 são introduzidas outras modificações na casa desta vez subscritas pelo Arqt.º Couto Martins. Posteriormente, em 1939 são efetuadas as alterações mais vistosas: prolongamento dos compartimentos envidraçados no 1.º andar ocupando toda a extensão da fachada sobre a Travessado Moinho de Vento, e a modificação da garagem no jardim com a construção de arrecadações sobre o terraço da mesma para viabilizar um segundo aluguer. Estas transformações são assinadas pelo Eng. René Touzet.

Numa carta datada de 1959, o seu amigo Vasco de Mendonça, junta um desenho humorístico intitulado “Bestoria à Casa do Moinho de Vento”, onde caricatura alguns problemas estruturais da construção, que devem ter existido desde o início e que ainda hoje se mantêm (paredes salgadiças, humidade, rachas e cheiro de canos de esgoto “sui-generis”). (MENDONÇA, Vasco – “Bestoria à Casa do Moinho de Vento”. In. [Carta dirigida a António Sérgio para a Clínica de Saúde de Carnaxide], 1959)

Em 2 de março de 1982, a Casa foi cedida ao INSCOOP pela Câmara Municipal de Lisboa por protocolo assinado pelo seu presidente, Eng. Nuno Kruz Abecassis e pelo Presidente do INSCOOP, Prof. Fernando Ferreira da Costa.

Após um período longo de realização de obras de reestruturação (1982 – 1988) a Biblioteca do INSCOOP passa a funcionar na Casa António Sérgio, a partir de 1988, assim como a Biblioteca António Sérgio e outras peças com ela relacionadas (busto,secretária, etc.) que, desde 1979 tinham sido entregues pelos herdeiros.

A Biblioteca volta assim para a casa do Pensador que a reuniu ao longo de toda a sua vida, a utilizou como instrumento de trabalho e certamente de prazer. É o testemunho vivo de quem foi António Sérgio, da sua grande cultura do seu saber universalista.

Nestes últimos 26 anos tem sido fonte de investigação e de inspiração para grandes nomes da cultura.

Obras de conservação do edifício foram concluídas em 2013.